Certas lições nos são passadas no dia a dia e muitas vezes não nos damos conta da sua real importância. Quantos de nós cotidianamente passamos pelas mesmas pessoas e nem ao menos lhes dirigimos um bom dia. E isto pode ocorrer no elevador de casa ou do trabalho. Não devemos esperar pela data de 13 de novembro, Dia Mundial pelos Atos de Gentileza, para começar a praticá-la no cotidiano.
Recordo-me de uma história interessante que li ainda jovem, a qual relatava que o cultivo da gentileza, do bom humor e da cortesia, manifestado em 1930, por um rabino, salvou sua vida, anos depois, na Segunda Guerra Mundial. Ele vivia numa aldeia polonesa, na qual a relação entre cristãos e judeus era conflitante. Mesmo com esta agravante, ao caminhar pelos campos cumprimentava indistintamente as pessoas que encontrava pelo caminho.
Havia, entretanto, na aldeia um camponês que não retroalimentava sua comunicação, dando-lhe sempre as costas. Isto, entretanto, não o desanimava e todos os dias o rabino insistia em demonstrar seus gestos de gentileza, com um bom dia cada vez mais alto e animador, até que foi correspondido. E de sol a sol, todos os dias lá estava ele, levando seu sorriso, seu otimismo ao lavrador.
Passados alguns anos, perderam o contato, o rabino não mais via o lavrador nos campos poloneses e foram se reencontrar no campo de concentração alemão, ao sul da Polônia, Auschwitz, considerado como um dos maiores símbolos do Holocausto. Ao desembarcar do trem de prisioneiros, o rabino leu as palavras ‘Arbeit macht frei’ traduzida como o trabalho liberta. Em seguida, entrou na fila que decidiria seu destino e verificou que o comandante do exército de Adolf Hitler, a quem cabia decidir qual prisioneiro morreria de imediato e quem sobreviveria por maior tempo, era o camponês, com o qual estabelecerá um contato através de seus gestos gentis.
Ao passar por ele, encorajou-se, olhou em seus olhos e abriu um sorriso e disse-lhe: bom dia! O comandante quebrando a rigidez correspondeu e o mandou prontamente para a fila dos que teriam chances de sobreviver. E ele sobreviveu e pode contar que foi pela gentileza que praticou ao longo de sua vida que ele escapou da morte cruel naquele campo de concentração. Vale lembrar que em Auschwitz se encerraram centenas de milhares de judeus e ali também foram executados mais de um milhão de judeus e ciganos. Aquele que seria o algoz do rabino tornou-se pessoa com quem ele estabelecera laços afetivos, através de um sorriso otimista e de um simples bom dia.
Ações gentis devem ser, portanto, rotineiras. Afinal, nunca se sabe o que os reflexos de nossa amabilidade e distinção, ou o contrário, podem resultar ao longo de nossas vidas. Além disso, é comprovado que a gentileza faz bem para a saúde. Isto mesmo, para a saúde! Por mais incrível que possa parecer, há constatação científica de que atitudes neste sentido liberam endorfinas no corpo provocando o bem-estar. Ou seja, ao adotarmos esta atitude como prática de vida, é possível nos tornar mais felizes e entrarmos, por exemplo, na sintonia de um ambiente de trabalho mais harmonioso, solidário e encorajador. Uma atmosfera, que é importante para a própria produtividade e conquista de melhores oportunidades no mercado.
Pedro Nadaf, é secretário-chefe da Casa Civil e presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Mato Grosso-Fecomércio/Sesc e Senac